domingo, 28 de fevereiro de 2010

COMO VIVE O VICIADO EM DROGAS APOS A MORTE - PARTE 1

"Conheço uma música que diz: 'estava à toa na vida... 'Não era nascida quando ela foi lançada em um festival se não me engano; gostava de cantá-la porque fazia parte de meu universo mental.


"Como eu gostava de vadiar! Passava horas na inatividade e quando era chamada a razão me enfurecia. Não queria nada com o trabalho nem com o estudo. Realmente, eu preferia ficar sentada e ' ver a banda passar '.



"Nada fiz de construtivo até o dia em que conheci um rapaz da cidade grande, que me encantou à primeira vista. Não sabia de seus antecedentes e me joguei em seus braços. A sífilis me atingiu em cheio. Com vergonha de revelar aos meus pais a nova situa¬ção fugi de casa, e me tornei uma prostituta quando ele me abandonou. Fiz tratamentos que não resolveram o problema da saúde, pois voltava a me contaminar. Não eram chegados ao uso de preservativos os homens que me procuravam.

"Adoeci gravemente e desencarnei aos dezenove anos. Hoje

lamento o fato de minha mãe ter sido tão tolerante. Preferia que A

ela tivesse me arrancado daquela indolência inicial e me obrigadoafazer algo de útil por mim mesma. Quem sabe eu não teria sido mais feliz?"Paula -- "Hojejogo omeu futebol— aqui na pátria dos espíritos. Quan¬do jovem encarnado não consegui levar avante meus propósitos de sucesso no esporte, porque o uso da droga, com seringa não descartável, atropelou os meus projetos. Que projetos? — pergunto eu. Quem deseja alguma coisa deve planejar e trabalhar em cima de objetivos reais. Eu apenas sonhava.

"Vocês pronunciam muito esta frase: 'é preciso correr atrás dos sonhos'. Verifico que há muitas fantasias chamadas de sonhos. A fantasia não se concretiza porque nasce do devaneio, e nela não se aplica a força da vontade. Muitas vezes eu me punha a sonhar e me via entrando no Morumbi, aplaudido por milhares de torcedo¬res. Se não fiz nada para alcançar esse objetivo, se até às drogas eu cheguei, estou certo de que alimentei uma vã fantasia. Nem sonhar eu soube, companheiros!

"O verdadeiro sonho, na realidade, é desejo da alma e exigeesforço para sua concretização. Como diziam meus pais, 'nada cai do céu '. A gente não ouve os mais velhos quando tem quinze anos; quero dizer que eu não ouvi, mas muitos colegas obedece¬ram. Eles foram mais felizes e ainda estão encarnados, enfrentando suas vidas.

"Eu morri muito cedo e da maneira mais inglória — cheiran¬do crack, numa madrugada fria, numa rua escura da zona leste da capital paulista. Escolhi uma vida vazia e até hoje sinto a tristeza de uma existência perdida. Leandro --"Ah, quanta saudade eu carrego, misturada ao arrependi-

z mento de não ter dado ouvido aos conselhos de meu pai —Jorge — dizia ele — leve a vida mais a sério, não se distraia com tantasbobagens que não levam a nada.

"Essas bobagens a que ele se referia eram os bares noturnos

g com seus jogos proibidos, mas que estavam lã, ao alcance de todos. 1 Máquinas importadas que mexiam com a imaginação e desafia-vam meu raciocínio.

"Queria vencer os monstros, e os bandidos; dirigir o carro, sem bater, numa pista de corrida alucinante. Passava horas me distraindo, esquecido da vida e da escola. Pudera, o bar ficava bem perto, a duas quadras do colégio. Era fácil tapear o velho e gastar até o último tostão da mesada nos jogos infernais.

"Não haveria mal maior se essa brincadeira não viciasse. Fiquei de tal forma envolvido que fui reprovado duas vezes na sétima série. Meus pais eram muito bons e tiveram a paciência de me matricular novamente, na esperança de que eu me controlasse.

"Que nada! Fui teimoso até a noite em que, numa batida policial, saí correndo porque era menor de idade. Acho que fuiconfundido com algum marginal, porque os policiais não tiveram esclpulos em atirar em um adolescente pelas costas.

"Meus pais quase morreram de desgosto - soube depois de muito tempo, quando já estava abrigado nesta Casa. Hoje venho para dizer: a vida fácil não nos conduz a nada!"

Jorge



"Também quero deixar meu depoimento. Hoje estou muito bem disposta, depois do exaustivo tratamento que recebi desta e equipe espiritual. Quando aqui cheguei, melhor dizendo, quando aqui me trouxeram quase inconsciente, estava muito mal. O peito arfava com a respiração difícil e a cabeça rodava como um pião.



"O que estou descrevendo não é uma crise epiléptica, é o efeito arrasador da cocaína. Se não tivesse tanta facilidade na vida, se tivesse que levantar de madrugada para pegar no batente talvez

ainda estivesse viva. Engraçado, muita gente se queixa da dificuldade e aqui estou eu me queixando da facilidade, do conforto, das roupas boas e da gorda mesada no fim do mês!

"É claro que ao descambar para a droga nenhum dinheiro mais bastava, pois a droga é cara, companheiros, para engordar os bolsos dos produtores e dos traficantes. Poucos gramas custam o olho da cara e se dissolvem em nosso organismo em fiação de segundos. . A euforia que provocam também é passageira, mas a depressão que vem depois é infernal.



"Meus pais ainda tentaram me salvar, oferecendo-me um tratamento em clínica especializada onde gastaram uma pequena fortuna. Foi um entra-e-sai danado daquele hospital. Hoje sei que no fundo eu não queria me desvencilhar da droga, que sempre exerceu um grande fascínio sobre mim. Será que na vida passada



já fui dependente? Não sei e ninguém respondeu a essa pergunta. Se eu precisasse saber eles me diriam - estou certa disso.



"Agora, depois da overdose que me separou dos pais queridos, faço um tratamento de verdade. Quero e preciso ficar livre dessa praga que é a dependência. Não quero ficar por aí, no mundo físico, aspirando o pó junto com encarnados infelizes, para satisfa¬zer minha ansiedade. Sei que vou conseguir, a exemplo de outros jovens que estão comigo. Obrigada. "

Teresa



"Drogas, jogos eletrônicos, prostituição, fatores de desagre- gação familiar e de fracasso de vidas juvenis. Quando recolhe- mos essas almas atormentadas, que procuram no além-túmulo a satisfação desses vícios, sentimos o quanto é importante uma ação preventiva por parte de pais, educadores e administrado- res da sociedade; uma ação enérgica aplicada antes do arrastamento para o mal. Quando a dependência se instala a situação de fato já se complicou e a luta terá de ser feroz. Acon¬tece então que a vontade do ser humano já ficou prejudicada, assim como o raciocínio.



"Vocês já viram um viciado tentando expor o pensamento a respeito de alguma coisa? Observaram a sua voz pastosa, seu olhar embaçado e seu raciocínio confuso? Pois bem, eu fui assim na última encarnação, que felizmente ficou para trás. Não quero me lembrar do que sofri e do que fiz sofrer meus familiares.



"Eu não era um jovem ingénuo e despreparado. Era um advogado que prometia atingir o sucesso. Defendi causas impor¬tantes, infelizmente, de pessoas afeitas ao tráfico de entorpecen¬tes. No princípio fiquei neutro ao que eles faziam. Depois fiquei curioso e desejei experimentar. Um dos suspeitos que retirei da cadeia ofereceu-me o primeiro trago. Fui controlado, no princípio, interessado em fazer fortuna com o exercício da advocacia.

"Estava indo bem. Tinha trabalho e reconhecimento social. Quando não pude mais me controlar, tudo foi para o brejo: di¬nheiro, família, prestígio.

"Desci ao fundo do poço e antes que pudesse de lá sair fui morto por um marginal a quem fiquei devendo quantia irrisória. Eles matam por tão pouco! São tão alucinados quanto os depen- dentes e não admitem que lhes f quem devendo nenhum centavo. Eponto de honra do tráfico!

"jovens, cuidem-se e sejam felizes. "Oduvaldo

Oduvaldo é hoje um tarefeiro que se dedica ao socorro de ex-viciados, e se comove ao máximo quando recolhe nos braços esses irmãos dementados. A tarefa tem, para esses companheiros, o efeito de um tratamento de choque, porque vida mansa eles já tiveram no mundo físico, e de que lhes valeu acomodidade?



Se o excesso de dificuldades cria barreiras ao desenvolvi- rmento do ser, o excesso de facilidades, para almas imperfeitas, também constitui fator de desestabilização emocional. O tra¬balho, como lei imposta por Deus, é a melhor terapia para a alma humana e o melhor instrumento para o progresso social. À medida que expande suas potencialidades, o ser constrói uma sociedade mais culta e mais civilizada. No patamar em que essa se encontra, o trabalho é bênção divina a iluminar as inteligências, propiciando aos seres terrenos a possibilidade de de¬senvolvimento tecnológico e científico, que não alcançarão sem muito empenho e esforço.

Kardec, o notável codificador dos ensinos dos Espíritos, ao mencionar o aperfeiçoamento da humanidade, identifica um progresso regular e lento ao lado de outro mais rápido, que Deus suscita de tempos em tempos, como um abalo físico ou moral que a transforma, com vista a apressar seu aprimoramento.

O orgulho e o egoísmo, enraizados ainda na alma humana, são os maiores entraves para o progresso bem dirigido, que não deverá privilegiar castas ou facções sociais, proporcionando a todos, igualitariamente, possibilidades de aquisição do necessá¬rio para construir uma vida com dignidade. A miséria será bani¬da e o pão não faltará na mesa do trabalhador. Todos terão aces¬so a uma educação plena, enriquecedora do intelecto, da mente e do espírito. A saúde não será tão precária e os tratamentos estarão à disposição. Alojado em moradias higiénicas e confortáveis, o ser humano retornará ao lar, com prazer, depois de uma

jornada produtiva de trabalho.

Essa é a meta prevista por Deus no ato da criação; uma meta que será atingida quando se instalar nesse plano uma era espiritual de extrema grandeza, fecunda de luzes, plena de inteli gência e sabedoria!



Luiz Sérgio

19/09/2002

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